A história social do mundo antigo foi durante muito tempo marcada não apenas pelo ponto de vista aristocrático inerente à maioria de nossas fontes textuais, mas também pelo predomínio no século XX dos modelos normativos do funcionamento das sociedades. O resultado foi uma tendência a enfatizar as estruturas de dominação ou o papel das elites, em detrimento dos estudos sobre os grupos subalternos e populares nos termos de seus próprios padrões, expectativas e experiências. Embora os temas de pesquisa em História Antiga tenham sido em muito ampliados desde os anos 1960, a dificuldade de construir uma visão plausível de qualquer aspecto da sociedade para além dos mais altos estratos de riqueza, poder ou status social continuou sendo uma característica marcante da disciplina, em contraste com os desenvolvimentos ocorridos nas Ciências Sociais e em outros campos da História. Nos últimos anos, porém, a reflexão mais aprofundada sobre o lugar da História Antiga em um mundo em que a tradição clássica deixou de ser dominante e a emergência de centros periféricos de pesquisa em países como o Brasil, com suas experiências de exclusão, violência e desigualdade social, têm levado os classicistas e historiadores da Antiguidade a colocar questões de um modo diverso e mais dinâmico. A História Antiga tem se reconectado com os debates historiográficos mais amplos, incorporando novos objetos de pesquisa e criticando de maneira mais sustentada os fundamentos mesmos dos modelos normativos. É nesse sentido que a exploração sistemática das experiências históricas dos grupos populares e subalternos, em seus próprios termos, ganha uma importância crucial ao nos levar não apenas a questionar os limites da submissão e da internalização da dependência, mas também a afirmar uma perspectiva histórica que ressalte a heterogeneidade das sociedades e a importância do conflito social e da resistência.
Este grupo de pesquisa tem por objetivo congregar professores, pesquisadores e estudantes de História e áreas afins, como Arqueologia, Letras, Economia e Ciências Sociais, do Brasil e do exterior, para o desenvolvimento de pesquisas e atividades relacionadas ao estudo dos grupos subalternos e das práticas populares na Antiguidade Greco-Romana. Pretende-se, com isso, estimular e sustentar a reflexão teórica e metodológica sobre a experiência dos grupos subalternos, suas práticas, formas de expressão e modos de ação, e sobre os problemas específicos colocados à investigação desses temas no estudo das sociedades antigas. As atividades desenvolvidas pelo grupo se desdobram em três linhas de pesquisa: Domínios da Política Popular; Tradições e Culturas Populares; e Estratégias Sociais Subalternas. As três linhas de pesquisa visam discutir, sob diferentes aspectos, os problemas e possibilidades de se escrever uma história mais plural do mundo antigo.